segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Mundos

            A vida imaginada não é mais. Não é menos do que a vida normal. Real.

            É outra realidade. Sentida só por aquele que a sonha. Sozinho. Vive cheio de pessoas que o amam. Uma só. Não importa quantas são. Não importa se o amam ou não. Apenas interessa que existem no sonho dele. Dela. Meu.

A literalmente vossa

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Os Deuses sentem


Quem me dera que a escrita fosse como a música. Apenas transmitia algo. Sem interpretações. Sem palavras com sentido e significado. Porque o escritor passa pelas letras sem pensar no seu conjunto. Apenas dança com aquilo que vem a ser um texto completo. E quem o lê é um ignorante! Não chega nem a metade do que o texto significa. Simboliza. Transmite. A maneira como tocamos nas letras. Umas suavemente... outras com toda a raiva do mundo que é apenas mentira. É tudo mentira. Tudo o que o poeta diz. Todas as palavras são mentira. Criadas por um sentimento que não existe. Nunca existiu. Mas era tão bom que existisse. Aquele sentimento de pertença. De repulsa. De incompreensão que apenas serve para fingir que se é alguém de importante. Com sentimentos superiores a todos os outros. Que na verdade não são nada: vazio. Desespero que nem sequer existe. A escrita é a imaginação do mentiroso. Que sonha ser mais que o Homem. Sentir é para os Deuses. Eles devem possuir o sentimento verdadeiro. Aquele que é explicado pela magia da música, da imagem. De tudo menos da escrita.

A literalmente vossa

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Há dias em que não escrevo

Há dias em que não escrevo.
Há dias em que não quero saber.
Há dias pequenos.
Há dias grandes.
Há dias em que acredito em tudo.
Há dias em que o mais perfeito me repulsa e dias em que o imperfeito me incomoda.
Há dias bons e dias maus – claramente prefiro os maus.
Há dias em que sou eu e dias em que não me suporto.
Há dias em que tudo é possível.
Há dias em que o impossível é a única solução: não são esses os melhores dias?
Há dias em que sou feliz.
Há dias em que sou absolutamente miserável.
Há dias e dias.

Mas há noites...
Há noites em que me apaixono e noites em que tenho medo.
Há noites que não mudam. Porque a noite é muito concreta:
Ou amas o desconhecido e o invisível,
Ou o temes eternamente.
E sinceramente, eu escolhi adorá-lo com todas as minhas forças.
Nada mais há a dizer.

A literalmente vossa

A pior coisa a que me proponho é conhecer

A pior coisa a que me proponho é conhecer-me.

A verdade é a verdade.

Não muda nem se altera.

Não é possível escrever sobre ela porque é certa.

E a sensação de alívio que é saber quem sou apenas atormenta a possibilidade de ser e ser.

Eu amo o não ser.

Amo o impossível.

Só com ele consigo ser algo de interessante.

Não me metam ordem.

Não me interessa a razão.

No dia em que me reger pela verdade universal

Tentem matar-me.

Impossível.

Já estou morta.

Todo o meu encanto e razão pela qual vivo desapareceu.

A única coisa que resta é a minha carne.

O meu coração que insiste em bater.

E não pára. Não percebo porquê mas não o faz.

Por isso, se o quiserem fazer por mim:

Poupam-me o esforço de ter de ser eu mesma.

 
A literalmente vossa

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Há muito que não escrevia

Há muito que não escrevia

Há muito que não sentia o suficiente para escrever.

Ou sentia demais.

Não sei- porque não sei nada.

E só nada sabendo consigo saber alguma coisa.

Porque o conhecimento parte do desconhecimento.

Só o desconhecido pode ser descoberto.

Tudo aquilo que se conhece – ou acha que se conhece –

Não é mais do que as correias que nos prendem a nós mesmos.

Ao nosso orgulho

Que nos protege e afoga do mundo.

No mundo.

A escrita é a descoberta.

O escrever só pode ser sobre o nada.

O não sabido.

Para assim ter algum objetivo:

Melhorar, piorar.

Mudar!

E quando mudamos passamos a ser nós mesmos:

Seres em mudança.

Seres em relacionamento com o imperfeito.

Criados pelo perfeito

E destinados ao inacabado:

Pois só o que está inacabado pode ser melhorado.

Se fossemos seres finitos,

Éramos perfeitos, estupidamente imperfeitos

Um dos dois opostos.

Mas a piada:

Tudo na vida tem piada,

Até a dor. Especialmente a dor.

É que nós somos estupidamente imperfeitos,

Ansiosos pela perfeição.

E é esta ânsia que nos faz crescer. Melhorar.

Escrever.



A literalmente vossa

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Poesia

Há razões de escrever. Há razões de falar. Há razões de fazer poesia. E porque é que eu não posso fazê-lo? Porque é que me limito à prosa? Mesmo que essa possa ser outro modo de poesia. Quero escrever poemas. Que rimem. Não rimem. Façam sentido. Sentido nenhum. Mas quero escrever poemas. Passar para a linha de baixo sem acabar a de cima. Deixar ideias por dizer. Não deixar nada por dizer. Dizer tudo. E não dizer nada. Porque é isso que é a poesia. Não se diz nada. Shhh. É segredo. Nada do que o poeta diz é a verdade. Nada. A verdade é aquela que não é dita. É sentida. Passada. Criada. Interpretada pelas poucas palavras que existem. Um tempo escreve-se. Outro lê-se. Outro interpreta-se. Sente-se.

A literalmente vossa

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O electricista português

Existem dois tipos de eletricistas: o que se sente pobre por ser apenas um eletricista. Afinal não é nada. que pode ele dar ao mundo?; e existe o que é a essência de Portugal: aquele que vai. Casa a casa. Lar a lar. Hospital a hospital. De candeeiro de rua a lâmpada de casa de banho. Vai e espalha a luz. Que ilumina de novo. Repara a escuridão e dá a possibilidade de ver. Promete o ambiente para escrever. Ler. Namorar. Comer. Curar. O eletricista português é aquele que sem saber. Português que é de Portugal nunca pensa que faz suficiente. Ilumina o mundo inteiro. Só porque partilha com os outros o que sabe fazer: renovar a lâmpada.
Ao longo do tempo ninguém pode ser sozinho. Essa é uma aprendizagem importante. É por isso que existem os outros. É por essa razão que os artistas nascem – para mostrar ao mundo que a sua solidão é a base para que ninguém se sinta só. –  Com esta característica do ser humano. Todos nós precisamos de um eletricista. De alguém que percebe a nossa situação. Porque já viu acontecer. Porque já passou por ela. Então ajuda-nos a trocar a lâmpada. Ajuda-nos a brilhar por dentro de novo.

Diferente do eletricista. O rico que fica em casa a ver televisão enquanto trabalham para ele. Esse é na realidade mais pobre. É pobre de pessoas. Pobre de atos. Acredito que para lá chegar foi um dia eletricista. Mas para ficar a ver televisão esqueceu-se de o ser. Não falo de ideais cegos e frios. Quanto mais riscos corremos maiores somos quando os ultrapassamos. Não tenhas medo Portugal. Não tenhas medo de ser eletricista. É isso que foste destinado a ser. É isso que sempre foste e irás ser. Por isso… não te negues. Mas assume-te. E quando te assumes: és grande!

A literalmente vossa